sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Vinicius Borba poetiza no programa Põe Azia nisso, TV Web

Num entrevista super descontraída, regada de muita poesia, relendo Gog, Tico, Ferreira Gular e tantos outros Vinicius Borba e Anand Rao trocaram ideia e poesia na 9ªdição do programa Põe Azia Nisso, veiculado pelo Portal Cultura Alternativa. Agitador periférico, Vinicius Borba bateu papo sobre sua construção enquanto poeta e vivente da resistência antifacista no Brasil, falou sobre o momento político e de sua trajetória enquanto artista e pai de família, seus amores e história.

Para Vinicius, sua verve de poeta surge em defesa dos direitos humanos e contra as injustiças sociais, mas segue nesse debate em favor da igualdade de direitos. Questionado sobre suas posições com relação às elites nacionais e a pessoas de outras classes sociais foi enfático ao defender o direitos de todos serem o que quiserem, desde que tenham respeito pelos direitos humanos. Assista ao debate e tire suas próprias conclusões, além e curtir muito da poesia de Vinicius Borba.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Mentira tem perna curta

Por Vinicius Borba
As manifestações do dia 16 de agosto de 2015 tiveram uma ilustração que denuncia a real identidade de grande parte dos odiosos manifestantes travestidos de velhinhas e famílias de propaganda de margarina. A presença das crianças e um suposto clima de ordem não ilustra o real ideário higienista e facista que permeia a construção de extrema-direita destes protestos de natureza explicitamente golpistas.

A Revista Fórum prestou um verdadeiro serviço à Nação ao publicar matéria denunciando algumas das pérolas que demonstram de que é feito o imaginário dessa gente incoerente que supostamente combate a corrupção. ( http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/08/os-dez-cartazes-mais-inacreditaveis-do-1608/ ). Explícitas apologias ao assassinato, à repressão violenta contra a liberdade de ideais no país e opções políticas, além de uma clara demonstração de ignorância de parte das fileiras de torcedores da CBF, digo.., da seleção brasileira, digo.., defensores da pátria contra a corrupção de um único partido.

Estarrecido, li os cartazes que defenderam a volta de Sarney, o magnânimo eterno coronel de cujo coronelato foi defenestrado com seu secto nas últimas eleições, após 50 incansáveis anos de formação da cena que aí está, um verdadeiro arquiteto do "maldito jeitinho" impetrado em nossa política e do modus operandi tão criticado pelos anti-corrupção. Um verdadeiro símbolo.
Inacreditável é a desfaçatez com que alguns, ou muito desinformados ou realmente mal-caráters que permeiam estas mobilizações, construiram a defesa de um dos mais ilustres envolvidos na Operação Lava-Jato, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antigo mutreteiro-mor das praças de poder cariocas, representante do empresariado e das campanhas milionárias compradas em troca de influência no Congresso Nacional, foi defendido com a declaração de insanidade pública: "Não adianta isolar e calar o Cunha: somos milhões de Cunhas. Chega de Negociatas e corrupção. Impeachment Já", sustentava a faixa, que ninguém teve coragem de apresentar, sendo assim amarrada a um portão qualquer. Um estupro à lógica mínima ou à mínima interpretação das milhares de reportagens que ilustram a trajetória e a construção política de um quase biônico representante do pior da política brasileira. Um tipo sem ideologia, eleito com base em uma suposta religiosidade manipuladora das massas de fiéis incautos, como também da compra de mandatos por parte das elites empresariais da nação, para garantia de emendas parlamentares e enormes licitações que depois reproduzem a corrupção.

Poderíamos até inferir que isso seria obra da própria equipe do mesmo, ou do partido de que se origina. Mas a falta de censura por parte dos "combatentes da corrupção" que frequentaram tal ato já demonstra que não há qualquer forma de coerência que justifique crédito à um tipo de "protesto" como estes.

Não satisfeitos, participantes também defenderam, ou pelo menos se omitiram a censurar e combater, a violência como meio de prática política de repressão, com tortura e assassinato, demonstrando a natureza brutal, agressiva e deletéria para a construção de um país democrático que estas manifestações coxinhas trazem ao Brasil. A defesa explícita de cartazes, como o da senhora de cabelos brancos, questionando "porque Dilma não foi enforcada no DOI-CODI" durante a ditadura ilustra a origem do mal.


Desejar o enforcamento de alguém demonstrou o mais sombrio retrato do facismo semi-integralista que toma as ruas, quase aos gritos de Anauê, num ufanismo falso-moralista, que combate um inimigo único violentamente para destruir quaisquer projetos democráticos e populares de poder. Outra senhorinha, em Belo Horizonte, ostenta cartaz questionando porque não mataram "todos" ainda durante o regime civil-militar. "Todos" provavelmente se refere aos militantes progressistas do Brasil, socialistas democráticos, libertários ou comunistas, e de tantas outras denominações que fujam a seus padrões conservadores de politicagem. Ou seriam aos milhares de trabalhadores e trabalhadoras como as que marcharam lembrando Margarida Alves na última semana na Esplanada? Ou estariam decretando a morte dos milhares de usuários de Bolsa Família do Brasil que deixaram a fome? Ou seriam os milhares de jovens pobres que alçaram voos nas faculdades federais brasileiras? Ou seria a morte dos jovens negros assassinados diariamente nas favelas brasileiras pela polícia treinada pela Cia? Isso tudo associado a inúmeros pedidos de retorno da ditadura civil-militar.

Realmente a falta de uma Comissão da Verdade imediata, durante o período de redemocratização demonstra agora seus efeitos mais nefastos, com o esquecimento proposital de toda a corrupção que foi sedimentada no país durante os anos do regime.

Mas o que mais deveria chamar atenção dos trabalhadores e trabalhadoras iludidos, que estejam tomando parte nestes atos, é o cartaz que reafirma, num português mal acentuado, a ideia clássica dos liberais e ricos do mundo de que gerenciam governos e Estados pois são os mais capazes. Como se o objetivo não fosse, de forma patrimonialista, manter seus contratos com o próprio governo que gerenciam. E assim enriquecer mais. Dizia o cartaz do senhor que preferiu esconder o rosto, com alguma razão: "Pais sem corrupção é pais onde rico manda, pois rico não precisa roubar". Uma espécie de cinismo mórbido, meritocrático, não sabemos ao certo se por inocência ou estupidez que toma conta de muitos dos participantes destes atos.

Ora, se tal máxima fosse verdadeira, teríamos governos aristocráticos e burgueses puros, de enorme força e pureza moral dos ricos que por 500 anos geriram o Brasil, até 2002. A história demonstra completamente o contrário, desde o assalto ao Banco do Brasil de Dom João, até a venda inexplicável da Vale para uma multinacional a preço de bananas por parte de FHC. Este barato nos saiu caro demais, não só em termos financeiros, mas de soberania em minérios. Como defender o Brasil defendendo teses que entregam nossas riquezas estratégicas a outros países? A isso chamamos entreguismo, prática recorrente de partidos como o PSDB, de Aécio e Serra, que agora tentam entregar nosso petróleo ao capital internacional, enquanto o Pré-Sal bate recordes.

Se a massa de trabalhadores brasileiros não buscasse sua força e o poder, jamais teríamos visto a inclusão de 7 milhões de universitários no país como hoje vemos, com esperança aos milhares. Mesmo com alguma limitação nas vagas do FIES na última etapa, foram milhares de vagas que se abriram, isso é indiscutível. Caso haja dúvidas dêem um Google. Se ainda restar dúvidas, vão às universidades e centros universitários e chequem quantos são @s bolsistas e cotistas incluíd@s, um@ a um@.

Realidade totalmente contrária que demonstra o quanto, nos cargos de poder, os ricos seguiram reinando somente para os seus, séculos afora, até a chegada do tão criticado Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder pelas mãos de Luis Inácio Lula da Silva. Lula e suas gestões foram, inclusive, muitíssimo criticadas, como até hoje o são, pela conciliação de classes, por aceitar gerenciar democraticamente a composição de ministérios com clássicos políticos de origem da elite brasileira. Processo cada vez mais viciado que agora abala o Governo dos próprios trabalhadores. Dúvida eterna, se seria democraticamente possível governar com sucesso para os mais pobres sem a presença dessa mesma burguesia que criou a máquina e seus vícios pela compra de mandatos com o financiamento empresarial de campanhas, fonte original de corrupção, que segue aturdindo a democracia brasileira.

Se não criticam a fonte do mal, não venham exigir de um único partido que seja o perfeito da novela. Enquanto não houver isonomia de condições de disputa não há que se exigir de ninguém essa pureza. Isso é outra falácia desta desonestidade intelectual que ofende ao Brasil como um todo.

Como lembra o ditado, pior cego é o que não quer ver. Problemas no PT ou em quaisquer partidos no atual sistema político brasileiro e corrupções pelo sistema de financiamento empresarial de campanhas seguiremos debatendo, combatendo e corrigindo, isso é democracia. Mas jamais conseguiremos entender um ufanismo cego que exalta os símbolos da corrupção e da tortura, do princípio facista de pureza dos ricos e dos olhos fechados contra o patrimonialismo dessa mesma classe.

Não podemos aceitar o fogo centrado sobre o único Partido que já realizou alguma distribuição de riquezas e poder por meio das oportunidades no país, beneficiando inclusive a essas mesmas classes altas, sem esquecer porém os que mais precisam e as regiões mais afastadas, regionalizando desenvolvimento. Não aceitaremos esse estratagema pelo preço que pagam todos os demais partidos e a própria democracia, que deve ser valor máximo dessa nação como de todas as nações do mundo. Não uma democracia de enfeite, ao sabor das vontades estadunidenses ou de alguma potência hegemônica de plantão, mas da soberania e da autodeterminação dos povos.

A inversão de valores de que essa gente é capaz os coloca cada vez em maior constrangimento. Fato facilmente constatado pelo esvaziamento dos atos públicos realizados. Mentira tem perna curta.