quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Pois sou poeta, do livro Fora da Ordem

Arte capa: George Gregory
Por Vinicius Borba

Pois sou poeta rapaz,
Nunca que ninguém lhe disse?
Poeta de rua, poeta da noite,
Da favela, da taverna
contra o açoite, de tantos outros como eu

E em tempos de fim de mundo
Apocalipses pré-colombianos
Antes de entrar em paranoias
Fiz foi trazer duas joias
Pra poder logo com tudo

Trouxe foi duas meninas ao mundo
Enquanto covardes diziam:
-- Olha a crise! Olha a bolsa?!
Lá estava eu fazendo menino, sem medo da calvície
Pois sou poeta rapaz, nunca que ninguém lhe disse?

Que se tem coisa melhor
Que trazer menino ao mundo
Nunca que vi, nem to pra essas mesmices

E trouxe logo foi duas gatinhas,
Que foi pra passar a régua
Manu e Milena, meus dois melhores poemas

Se algo de fato me assusta? Para com o futuro de minhas crias??
Hum, vejamos...
Pode a bíblia estar certa...?
Não!
Podem os Maias estar certos??
Não, não, não.
Pode o InriCristo estar certo?
Nããããoooo!

Tudo que sei é que,
Se tenho algum medo por minhas crias
Por minha prole querida
É que o mundo não mude
É que jornalistas não furem seus chefes e edições
Que professores não amem suas profissões
Que nós da favela nos matemos,
antes de enfrentar os patrões

Que cada poeta em seus corações
Se neguem a gritar seus versos
Se neguem a riscar verdades cruas
Que junto ao povo não invadam as ruas
E tomem a unha o que lhe é de Direito
Por que liberdade conquistada
É o único caminho
Pra quem tem espírito de luta
E se com papel e pena
Fazemos nossa labuta
Então que se grite
E pras novas gerações registre e ensine
O peso de nosso fardo, missão, sacerdócio, calvície
Pois sou poeta rapaz! Nunca que ninguém lhe disse

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